Até hoje... Rosilene Souza

Até hoje não sei o que realmente aconteceu. Só sei que aconteceu. Tudo começou quando fui visitar um apartamento para alugar. Sim, que apartamento! Estremeço só de pensar... Essa fatídica lembrança nunca saiu das minhas memórias olfativas.

Me senti atraída pelo apartamento desde o momento que o vi. Era exatamente o que procurava: aconchegante, antigo, espaçoso, luminoso,... enfim, um sonho. Encantada decidi alugá-lo. Mas, antes daria mais uma olhadinha naquela maravilha, pois algo tinha despertado a minha atenção, não sabia bem o quê. E assim, o fiz.

Dispensei o corretor, pois dessa vez não queria a presença de ninguém desviando a minha atenção. E muito menos a dele. Sujeito estranho, com aquele sorriso branco. Falava sem parar e contava histórias estranhas dos antigos proprietários do imóvel. Era como se ele, não quisesse alugá-lo e guardasse algo de misterioso ali.

Assim, ao abrir a porta do imóvel, senti um leve perfume inebriante e nauseabundo. Pensei: a última pessoa que visitou o apartamento gosta de ficar cheirosa. Gosta tanto que impregnou o ambiente. E do nada, me peguei atraída por aquele cheiro. Cheiro esse que não me era estranho. Só sei que inconscientemente comecei a segui-lo, quanto mais caminhava pelos cômodos vazios, mais me via envolvida por aquele aroma e pelas histórias narradas pelo corretor.

Até que de subido, deparo com um objeto no canto da copa e percebo que o cheiro vem de lá. Paro! E ensimesmada na minha indecisão entre aproximar ou não. Respiro fundo e decido enfrentar a situação. Caminho ao seu encontro, quanto mais aproximo mais o cheiro aumenta. Abaixo para observar melhor o que é. E de repente, deparo com algo disforme se remexendo.

 Vagamente lembro, que o cheiro foi ficando cada vez mais forte e sufocante. De súbito levanto. Ao tentar me proteger corro em direção a porta. Ela se fecha diante dos meus olhos. Tento abri-la, não consigo. A maçaneta sai em minhas mãos. No desespero começo a gritar e esmurrar a porta. Não sei como ela se abre. Disparo para fora, tropeço em algo que até então não estava ali. No desespero caio e antes de desmaiar sinto algo me tocando, grito!

Acordo no hospital despertada pelo cheiro, sim pelo cheiro inebriante e nauseabundo em minhas narinas. Desesperada procuro de onde vem e deparo com o sorriso branco do corretor. Sim do corretor...

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