Sobre a coletânea Tudo poderia ser diferente - inclusive o título.

 

Ilustração Cassiano Silveira

A live do lançamento "Tudo poderia ser diferente - inclusive o título"
Hora: sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022 19:00:00 Horário Padrão de Brasília


 Apresentação por Mário Motta

Quando recebi o convite para apresentar essa coletânea, juro que titubeei. Depois percebi que – vacilei – identificaria melhor minha reação. Por fim – aceitei, foi o verbo que abraçou a ação.

Quem sou e porque eu? Pensei.

Já conhecia a maior parte dos autores com quem passei uma tarde deliciosa conversando sobre comunicação e aprendendo um pouco mais sobre a capacidade humana de se expressar, de se relacionar com o próximo e respeitá-lo, numa Oficina que os reunia e que por fim, motivou essa coletânea.

Fiquei maravilhado com a diversidade de seres tão semelhantes, reunidos por um único sentimento – o amor às palavras e o que elas conseguem expressar.

Senti-me honrado, mas confesso meu vacilo foi imaginar como apresentá-los se a qualidade de seus textos o fará por si.

Quando recebi os originais, senti um certo alívio, pois o Manual de Instruções que segue essa humilde apresentação, é mais que perfeita do indicativo para prefaciá-los.

Resumiu exatamente o que eu pensei fazê-lo e que não só se tornou desnecessário, como já nos dá uma visão da impressionante diversidade de temas tão próximos do mesmo fio condutor da coletânea: o amor pelas palavras e a incrível capacidade de expressar os mais diversos e remotos sentimentos humanos, nas diversas formas como terão oportunidade de ler e que antecipo roubando do Manual: contos, crônicas, cartas, texto para teatro, fábula.

Se de alguma forma eu puder criar uma expectativa, provocar uma curiosidade ou despertar um sentimento de busca por algo novo em você, caro leitor, terei cumprido minha nobre missão e posso garantir que o cardápio de estilos que segue, não perde em nada para os menus dos melhores restaurantes literários do pedaço.

Bom apetite e que sua fome de palavras, ideias e sentimentos, seja devidamente saciada.

                                       Mário Motta

Apresentador Jornal do Almoço , NSC TV Florianópolis, SC.

 

Autores 

 

Antonio Gil Neto nasceu em Taiaçu, cidadezinha do interior paulista, em 1950.  Graduou-se em Pedagogia e Letras. Ainda jovem, mudou-se para São Paulo, onde vive e construiu sua carreira profissional na área da Educação.

Atuou, paralelamente, em projetos de formação de educadores e em publicações didáticas vinculadas ao ensino de língua. Autor de livros de literatura juvenil: “A flor da pele” e “Cartas Marcadas”, (Ed. Cortez/SP) e também organizador e autor de “A memória brinca: ciranda de histórias do ensino municipal paulistano”, (Imprensa Oficial/SP).

No primeiro livro que escreveu – “Brado Retumbante”, (Ed. Olho d’Água/SP) – teve a graça de receber na contracapa generosas palavras de Paulo Freire. Lembra-se bem do dia em que, então secretário da educação, o mestre maior visitara a escola onde era diretor. Teve a estupenda surpresa e o incontido júbilo quando anunciaram um senhor que aguardava ser atendido. Ele que merecia um tapete de flores e todas as portas e corações abertos a ele, permanecia sentadinho na sala de espera!

Aposentado, dedica-se a viajar pelo mundo afora e ao imprescindível das leituras. Dentre elas, Adélia Prado, Clarice Lispector, Guimarães Rosa, Fernando Pessoa, Manoel de Barros. E também a (re)escrever poemas e contos com renovada alegria!

 

Cassiano Silveira. Nascido em Floripa/SC (1980) e atualmente morador da vizinha cidade de Palhoça, formou-se historiador e atuou na área da arqueologia por mais de 10 anos. Interessou-se por livros e ilustrações desde tenra idade, tendo lido inúmeros romances e escrito umas tantas poesias quando adolescente. As poesias foram destruídas em um arroubo passional dos tempos de recém-casado (Declara-se: –Amo-te cada dia mais, Mony!), mas a influência de Mário Quintana permaneceu.  A ironia de Luiz Fernando Veríssimo também deixou marcas em sua produção textual. Entre 2016 e 2017 trouxe a público, através do Facebook, as tirinhas cômicas “Os Cabeçudos”, discutindo sobre o cotidiano de forma um tanto nonsense. Ainda em 2017 nasceu o até agora único filho, que virou de cabeça para baixo – e para muito melhor – sua vida. Publicou artigos científicos e poemas em várias revistas e coletâneas (destacam-se o artigo Os Caixões Fúnebres na Capela de Nossa Senhora das Dores: Uso e Tipologia, Revista Tempos Acadêmicos, 2012; e os poemas Cama de Mármore, Revista Poité, 2006; Velório, PerSe, 2021 e Olho-mar, PerSe, 2021). Dedica-se hoje à produção de textos (entre poesias e contos), capas e ilustrações. Desenhou as capas dos livros A Meus Queridos Netos, de Marlene Xavier Nobre (Postmix, 2017);  Coletânea de Poemas (PerSe, 2021) e desta coletânea. No forno estão vários textos infantis, que escreve como se fossem para seu filho (e serão também). 


Edna Domenica Merola é organizadora desta coletânea. Ingressou na Universidade de São Paulo aos 17 anos, leu Stendhal, Proust e Sartre, no original. Foi aluna de Antônio Cândido, Décio de Almeida Prado e Alfredo Bosi. Licenciou-se em Letras, lecionou Português nas redes públicas municipal e estadual de São Paulo.  Trabalhou em sala de leitura e, junto com seus alunos, entrevistou Ruth Rocha, Pedro Bandeira, Camila Cerqueira César, Stella Carr, Edson Gabriel Garcia e outros.  Suas leituras recorrentes: Alice no país das maravilhas, Macunaíma, O alienista, Estrela da Vida Inteira, Morte e Vida Severina. Nos anos de chumbo, manteve-se existencialmente graças à leitura diária da coluna na Folha de São Paulo que trouxe, em períodos diferentes: Carlos Drummond de Andrade e Lourenço Diaféria, e ainda, graças ao teatro de Ionesco, Arrabal, Sartre, Brecht, Boal, Gianfrancesco Guarnieri. Da música popular brasileira destaca: Vinícius de Moraes, Elis Regina, Maria Betânia, Gal Costa, Chico Buarque de Holanda, Milton Nascimento, Caetano Veloso. É pedagoga e exerceu as funções de coordenadora pedagógica e de supervisora de ensino. Psicóloga, psicodramatista, mestre em Educação e Comunicação. Publicou livros que mesclam textos literários e explanações sobre aspectos metodológicos de realização de oficinas de escrita criativa: Aquecendo a Produção na Sala de Aula (Nativa, 2001), De que são feitas as Histórias (Postmix, 2014); Diálogos da maturidade (Postmix, 2016); Relógio de Memórias (Postmix, 2017). Escreve poemas: Cora, Coração (Nova Letra, 2011) e contos e crônicas: A Volta do Contador de Histórias (Nova Letra, 2011); No Ano do Dragão (Postmix, 2012); As Marias de San Gennaro (Insular, 2019).

 

Gilberto Motta nasceu e cresceu em um circo-teatro dos pais onde foi ator, músico, palhacinho e cantor mirim. Começou na rádio Piratinga de Tupã, interior de São Paulo. Cursou a Faculdade Cásper Líbero/SP de jornalismo e trabalhou em rádio, jornais e TV em SP e SC. É compositor, escritor, poeta, jornalista, professor, mestre em mídia e conhecimento, consultor/palestrante e pesquisador cultural. Realiza cursos e oficinas literárias, TV, rádio, cinema e redes sociais. Documentarista audiovisual, especializado em multimídias e comunicação digital, educação e comunicação para multiplataformas. Leitor voraz de Guimarães Rosa e apaixonado por Fellini e Tim Burton no cinema. Nos últimos anos, publicou em e-book (Amazon) a novela infanto-juvenil “A Incrível Jornada da Menina Careca”, as memórias sobre os pais “Céu de vaga-lumes: lembranças e Andanças de Motinha e Nhá Fia e o Circo Imaginário”, além de integrar diversas coletâneas de contos, crônicas e poesias. Prepara atualmente o livro “Vamos Fazer uma Boa Tarde”: Mário Motta, do picadeiro circense ao picadeiro eletrônico do Jornal Nacional”, os contos “Cotidemia: saudades do Futuro” e o romance “As Mãos de Guevara”.

 

Maria Bernadete Viana da Silva morou de 1961 a 1973, em Ribeirão Preto, SP, onde fez seus estudos e se formou em Ciências Sociais. Morou em São Paulo, capital, de 1974 a 1985, onde casou, teve três filhos, fez especialização em História e se tornou professora efetiva da Rede Pública Estadual de SP. Mudou, em 1985, para Fernandópolis, SP, onde se aposentou, em 1999. Em abril daquele ano mudou para Florianópolis, onde os filhos cursaram a Universidade. Desde 2002 frequentou cursos de extensão da UFSC. Como voluntária, participou de Contação de histórias para crianças em escolas e de projetos sócio culturais para grupos de terceira idade. Hoje faz curso on-line sobre música popular brasileira. 

 

Marlene Xavier Nobre nasceu em Florianópolis /SC, em agosto de 1953. Diz que escrever é seu maior vício. É autora de A meus queridos netos cartas, Postmix, 2017; Lembranças e esperanças de uma Mulher, insular, 2020. Participou da Coletânea de poesias do Instituto de Memórias, em 2019. Da antologia poética Vivara poesia livre, Ed nacional, 2020.  Das coletâneas: O mundo parou, Centenário de Clarice Lispector, Natal, Reflexões de um pet, Apparere, 2020. E da Coletânea de poemas, Apparere, 2021. 

 

Wolf Hornke conta que aos 11anos de idade, lia as aventuras de Perry Rhodan, herói espacial americano (escritas por K.H. Sheer) publicadas em episódios semanais lidos clandestinamente, no dormitório coletivo da escola Ludwig-Meyn em Ütersen, a 20 km de Hamburg, norte da Alemanha, ainda fortemente influenciada pela ideologia nazista 14 anos após o fim da guerra. Mais tarde, leu romances policiais de Edgar Wallace, Agatha Christie, Rex Stout, Ellery Queen e muitos outros. Veio para o Brasil aos 16 anos e aos 22 passou no vestibular para os cursos de Filosofia e Psicologia na Universidade de São Paulo, como um dos primeiros colocados. Nessa época começou a ler autores nacionais, em particular Graciliano Ramos e Machado de Assis, além dos autores curriculares como Manoel Antônio de Almeida, Aluísio de Azevedo, Raul Pompéia, Lima Barreto e Euclides da Cunha, e poesia, muita poesia, em particular Fernando Pessoa e Carlos Drummond de Andrade. Aos 24 anos por perseguição policial saiu da USP. Foi técnico em comércio exterior por mais de20 anos, chegando a funções de gerência em algumas empresas multinacionais. Dedicou-se a muita leitura e reflexão, à militância política, inicialmente clandestina, entre 1970 e 1978, e depois aberta. Nessa época vieram os clássicos: Marx, Engels, Lenin, Trotsky, Rosa Luxemburgo, etc. e a os clássicos como Cervantes, Balzac, Proust, Stendhal, Dostoievski, Tosto, Joyce, Thomas Mann até romancistas como Hermann Hesse, Graham Greene, Umberto Ecco, Victor Hugo, José Saramago, Hermann Melville, Jack London, Raymond Chandler, Ernest Hemingway, Knut Hamsun, Stephen King, Hans Fallada, para citar apenas alguns que vem à memória de uma lista que não tem fim.  Afastou-se da carreira em Comércio Exterior aos 55 anos, devido a um downsizing na indústria capitalista mundial, foi comerciante por mais de 10 anos, formou-se psicólogo. Escreve contos, memórias, cartas e (sem nenhuma pressa!) prepara um romance.


Yara Maria Moreira de Faria Hornke é psicóloga judiciária do TJ SP, aposentada, onde trabalhou por 10 anos. Tem Mestrado em Psicologia pela PUC SP. Junto ao Conselho Regional de Psicologia de SC – CRP 12 – na gestão 2013–2016, foi Conselheira Vice-presidente. Entre 2016 a 2019, participou dos trabalhos da Comissão de Direitos Humanos do Conselho, nas várias lutas contra a violência e violação de direitos contra a pessoa e segmentos em situação de vulnerabilidade social. Participou dos debates e narrativas sobre a Ditadura Civil Militar de 1964 como colaboradora da Comissão da Verdade de SC. Adquiriu o hábito da leitura por meio de uma oportuna descoberta de um ônibus biblioteca do bairro em que residia, aos 10 anos. Depois descobriu a biblioteca pública municipal, à época ainda sem censura por idade. Seus autores preferidos: Galeano, Mia Couto, Clarice Lispector, Simone de Beauvoir, Jorge Amado, Conceição Evaristo, Guimarães Rosa, Graciliano Ramos, os clássicos franceses, os romancistas russos, os revolucionários marxistas e socialistas. Djamila, Márcia Tilburi, Fanon, Lia Vainers.

 Manual de instruções. Edna Domenica Merola (organizadora da coletânea Tudo poderia ser diferente – inclusive o título)

Isto é um livro. Pode ser que não o manuseie há tempos ou nunca o tenha feito. Este objeto não resiste a intempéries, em tempos líquidos. Por ter sido escrito por um grupo de autores tem vida em múltiplas idades que habitam corpos diferentes, residentes em diferentes cidades, nascidos em tantas outras... Isso faz dele um objeto forte e potente desde que em mãos que o apontem para leitura.

Leia-o como se fosse escrito por um único pensador, já que foi aparado e batizado num gesto conjunto em seu nascedouro. Repare, no entanto, em cada toque pessoal tatuado em composições artísticas que chamamos de contos, crônicas, cartas, texto para teatro, fábula.

De Absinto Pioneiro a Lara Pia toma por referência o conto O Gato Preto, de Poe, para narrar a saga de uma família que exerce dupla maldição sobre o povo:  enriquecimento ilícito e trato do patrimônio público, inclusive imaterial, como se fosse privado. 

Voo cego traz um diálogo entre dois personagens: um mandante negacionista e um piloto que deve obedecer à revelia da pertinência ou não da ordem dada.

O Crush da Professora “Z” Maria parte de uma citação da peça A Cantora Careca, de Ionesco, para revelar impressões sobre o estilo de comunicação de mandantes que combatem as artes, o ensino e a lógica, à semelhança do teatro do absurdo.

O terraplanista trata da retomada contemporânea de algo muito antigo: acreditar apenas no que pode ser visto e tocado, aceitar apenas argumentos favoráveis à própria opinião, associar tudo aquilo que o contradiz a uma teoria de conspiração.

Carta ao Autor Desconhecido é resposta a uma carta anônima que circulou em redes sociais.

Das belezas da democracia é uma fábula que enfoca o voto livre para eleger o presidente como algo envolvido por animosidades e pichações. A democracia comparece como trabalhosa e extenuante até se tornar agonizante e morta, como anseio de ditadura.

O silêncio da nossa casa: um militante se aprisiona na própria casa, em 1964, numa cidade brasileira.

A Freira de Blumenau é um conto jocoso sobre uma possível reunião de militantes e simpatizantes nazistas de todo Brasil, e de como esse evento, por obra do acaso, acaba por esquentar a relação de um jovem casal.

Anos de chumbo, retrata uma história vocacional que sofreu interferências da mudança repentina dos conteúdos aos exames vestibulares de Jornalismo, na universidade pública, em 1970.

Fique mais um ano, meu bem! – é uma carta apaixonada a uma companheira e uma narrativa sobre a militância política.

Por entre mimosos jacarandás tem por narradora uma diretora de escola, integrante de um grupo de educadores progressistas que é punido por gestores autoritários.

1959, ganhos e perdas traz memórias de infância para situar a corrida espacial que gerou a tecnologia e mudou profundamente as relações entre pessoas próximas.

Multidão retrata impressões sobre os invisíveis, as não identidades, os sem endereço.

Ei, cuidado, Fênix! – cântico para ninar pandêmicos. Relata os esforços existenciais para enfrentar notícias obtidas pelas diferentes mídias ou ouvidas do interlocutor, durante uma pandemia.

A terceira pessoa reporta ao jogo algoz versus vítima cujos lances incluem: ver no outro o que não consegue ver em si mesma, debater com o outro para sustentar a autoimagem, ter mau humor devido à insônia (ou insônia devido ao mau humor?), digladiar na arena Rede Social para não encarar sua insônia. No final, o espectro da autoajuda comparece mediado pela utopia.

Cotidemia, por meio da criação de um neologismo, narra o cotidiano durante a pandemia.

A Antífona, de Sócrates aborda o desprezo às fontes de pesquisa fidedignas, assim como o desconhecimento dos cânones da literatura e da Filosofia, para ilustrar a banalização da morte.

Espanto, micro conto de inspiração no ritmo poético de Guimarães Rosa, intui os sofrimentos pandêmicos na percepção do sertanejo: “infinito é nada, dotô!”.

ESCRITA e escrita aborda com sensibilidade a importância do apoio materno na aprendizagem infantil.

Interminável é uma crônica poética sobre intermináveis dias e noites duma pandemia. Metalinguística, remete à autocensura do criador.

Pronto final refere à ferida narcísica, por um lado, e à sociedade da imagem, por outro. Assim como à finitude.


Comentários

  1. Organização exemplar de Edna Merola! Orgulho de escrever ao lado de autores tão competentes!!! Grande abraço aos amigos,
    Cassiano

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  2. Ilustração, diagramação, formatação em e-book de Cassiano Silveira, autor na coletânea. Prazer enorme na parceria com Cassiano e os demais autores (Antonio Gil Neto, Gilberto Motta, , Maria Bernadete Viana da Silva, Marlene Xavier Nobre, Wolf Hornke, Yara Hornke).

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