Raul Seixas e a "Sociedade Alternativa"
Em 2023, passado meio século do início do
movimento Sociedade alternativa, pensar uma vida social diferente
da que é posta no ideário dos brasileiros que aderiram à extrema direita
(machista, racista, militarista e, por que não dizer, fascista) é um tema atual
que justifica a pesquisa informal aqui registrada.
Foi a partir de agosto de 1973
que Raul Seixas se dedicou aos estudos que fundamentaram a idealização da
sociedade alternativa. Passou a distribuir, em seus shows, um manifesto
chamado “A Fundação de Krig-ha”.
Segundo Boscato, Raul Seixas contesta a
"sociedade oficial, dentro dos movimentos de rebelião juvenil que ficaram
conhecidos pelo nome de contracultura.”
Segundo Gonçalo Júnior, "Esse pensamento
construiu, através da música, da literatura e de diversas iniciativas de
contestação política e social, uma oposição à cultura estabelecida, então vista
como eminentemente machista, racista e defensora do militarismo e dos
privilégios de classe. O roqueiro baiano, no meio desse caldeirão, começou a
pensar numa sociedade alternativa cuja base política era o anarquismo. Nota-se
nele, de acordo com o pesquisador [Boscato], uma profunda inspiração nos textos
de Proudhon, como na música Carimbador maluco."
Cinco, quatro, três, dois...
Parem, esperem aí.
Onde é que vocês pensam que vão?
Han han
Pluct, Plact, Zummm
Não vai a lugar nenhum
Pluct, Plact, Zummm
Não vai a lugar nenhum
Tem que ser selado, registrado, carimbado
Avaliado e rotulado se quiser voar!!
Se quiser voar
Pra lua, a taxa é alta
Pro sol, identidade,
Mas já pro seu foguete viajar pelo universo
É preciso o meu carimbo dando, sim sim sim sim
Pluct, Plact, Zummm
Não vai a lugar nenhum
Pluct, Plact, Zummm
Não vai a lugar nenhum
Tem que ser selado, registrado, carimbado
Avaliado e rotulado se quiser voar!!
Se quiser voar
Pra lua, a taxa é alta
Pro sol, identidade,
Mas já pro seu foguete viajar pelo universo
É preciso o meu carimbo dando, sim sim sim sim
Pluct, Plact, Zummm
Não vai a lugar nenhum
Pluct, Plact, Zummm
Não vai a lugar nenhum
Mas ora, vejam só, já estou gostando de vocês
Aventura como esta eu nunca experimentei
O que eu queria mesmo era ir com vocês
Mas já que eu não posso, boa viagem!
E até outra vez!
O Plunct, Plact, Zummm
Pode partir sem problema algum
O Plunct, Plact, Zummm
Pode partir sem problema algum
Boa viagem
O Plunct, Plact, Zummm
Pode partir sem problema algum
O Plunct, Plact, Zummm
Pode partir sem problema algum
Boa viagem meninos
Boa viagem
Proudhon (coetâneo porém opositor de Marx e Engels) como anarquista, negava a necessidade do Estado. Raul Seixas, com Carimbador Maluco mostra o controle que o Estado exerce sobre as pessoas por meio da burocracia. "
Dados biográficos do cantor, compositor,
executivo de gravadoras, performance e escritor Raul Seixas
1945 - (28 de junho) Raul Santos Seixas,
primeiro filho de Maria Eugênia Pereira dos Santos e Raul Varella Seixas,
nasceu na Av. 7 de setembro, número 108, em Salvador.
1954 - Raul ganhou seu primeiro violão e pouco
a pouco aprendeu a tocar algumas músicas, acabando por se apaixonar pela
novidade. Com a família foi morar próximo ao Consulado Americano e Raul
conheceu alguns garotos que lhe emprestaram discos que foram os primeiros
contatos com o Rock and Roll (Elvis Presley, Little Richard,
Fats Domino, Chuck Berry). Nisso, a escola foi ficando de lado, já que preferia
ficar na loja Cantinho da Música, curtindo rock and roll ou
marcando ponto no Elvis Rock Club, fã clube de Elvis Presley, fundado por
Raulzito e o amigo Waldir Serrão.
1962 - A necessidade de fazer rock levou Raul
a fundar, ao lado dos irmãos Délcio e Thildo Gama, o grupo Os
Relâmpagos do Rock. Chegaram a se apresentar na TV Itapoan, onde foram
chamados de cantores de “música de cowboy”.
1963 - Banda Raulzito e os Panteras:
formada por Raul Seixas, Mariano Lanat (voz e baixo), Eládio Gilbraz (voz e
guitarra) e Carleba (bateria) se torna um dos maiores nomes de rock em
Salvador.
1964 - Os Relâmpagos do Rock, com
nova formação, passam a se chamar The Panthers. Ano da
profissionalização definitiva e da descoberta dos Beatles.
The Panthers entra
em estúdio para gravar aquela que viria a ser a primeira gravação oficial: duas
músicas para serem lançadas em um compacto (Nanny/ Coração Partido) pela
Astor, que acabaram ficando apenas no acetato, não sendo lançadas
comercialmente. Somente em 1992, a música Nanny seria lançada,
entre outras gravações raras, no álbum O Baú do Raul.
O grupo passou então a se chamar Raulzito e Os
Panteras.
Em nome do namoro com a americana Edith
Wisner, Raul resolve parar tudo e retomar os estudos e, em pouco tempo, prestar
o vestibular (para passar num dos primeiros lugares) para a faculdade de
Direito.
1967 - Raulzito e os Panteras, convidados
pelo cantor Jerry Adriani, foram para o Rio e assinaram um contrato com a
EMI-Odeon para gravar um disco.
1968 - Grava para a Odeon o LP Raulzito
e Os Panteras que foi ignorado tanto pela crítica quanto pelo público.
Com o fracasso do disco, ficam algum tempo como banda de apoio de Jerry
Adriani, até a dissolução do grupo e Raul volta para Salvador.
1970 – Na Bahia, conhece Evandro Ribeiro,
diretor da CBS (Sony Music). Raul volta para o Rio para trabalhar como
produtor de discos na CBS. Durante um ano, Raul criaria músicas e discos de
sucesso para Jerry Adriani, Trio Ternura, Renato e Seus Blue Caps, Tony e
Frankie, Diana e Sérgio Sampaio (primeiro artista descoberto por Raul).
Três de suas músicas autorais se tornam
hits: Doce doce amor, na voz de Jerry Adriani, Ainda Queima
a Esperança, interpretada por Diana e Se ainda existe amor,
gravada por Balthazar.
Raul junta-se a Leno no projeto do primeiro
disco solo do cantor, Vida e Obra de Johnny McCartney, um trabalho
experimental, com letras de cunho político discutindo reforma agrária,
repressão e tortura. O álbum foi o primeiro lançamento brasileiro gravado em
oito canais, mas foi censurado pela ditadura e só lançado 25 anos depois.
1971 (em julho) - aproveitando a viagem do
presidente da CBS, lança o LP Sociedade da Grã-Ordem Kavernista–
apresenta – Sessão das 10, com participações do próprio Raul, com Sérgio
Sampaio, Miriam Batucada, Edy Star. Isso lhe valeu a expulsão da CBS (onde
aprendera a fazer música comercial e intuitiva). O disco então sumiu,
“misteriosamente”, do mercado.
1972 (Em setembro) - no VII Festival
Internacional da Canção, incentivado pelo amigo Sérgio Sampaio, classificou as
canções Eu sou eu, Nicuri é o Diabo, defendida por Lena Rios e Os
Lobos, e Let me Sing, mistura de rock com baião, interpretada pelo
próprio Raul, travestido de Elvis. Esta garantiu a continuidade de sua carreira
como cantor e compositor da Philips.
- Conhece o escritor Paulo Coelho.
1973 - Como produtor e cantor, anônimo, sem
crédito na capa lança o disco antológico de clássicos de rock and roll e da
Jovem Guarda: Os 24 Maiores Sucessos da Era do Rock (selo
Polyfar, 1973).
O “buuum” veio com a explosão do
compacto Ouro de Tolo, (curiosidade: teve que ser prensado duas
vezes numa semana!). Ouro de Tolo tem letra autobiográfica e
dá uma bofetada na face da classe média do país (que trocava a verdadeira
realização pelo acesso às bugigangas comuns de consumo), naqueles tempos
de Milagre Brasileiro.
1973 - É contratado pela Philips, lança o
primeiro álbum solo: a ópera KRIG-HA, BANDOLO! Considerado
pela crítica como um dos seus melhores trabalhos. O título refere-se ao
grito de guerra de Tarzan, que quer dizer: “cuidado, aí vem o inimigo”. O LP
KRIG-HA, BANDO-LO! foi feito todo de uma vez, mas a música Ouro de Tolo foi
lançada antes, por causa de uma jogada comercial da Philips que retirou a parte
que achava mais interessante.
1973 (agosto) - Raul Seixas e Paulo Coelho
lançam o movimento Sociedade Alternativa e dedicam-se com
afinco aos estudos esotéricos, mergulhando fundo na obra do mago inglês
Aleister Crowley. Raul anunciava que era hora de mudar o mundo e distribuía nos
shows um gibi/manifesto chamado “A Fundação de Krig-ha”, ilustrado por Adalgisa
Rios (esposa de Paulo, na época). A Sociedade Alternativa, com sede alugada,
papel timbrado e relatórios mensais, chegou a anunciar a aquisição de um
terreno em Minas Gerais, para a construção da Cidade das Estrelas, uma
comunidade onde a lei única era “Faze o que tu queres, há de ser tudo da lei.”
A ideia da Sociedade Alternativa não agradou a muitos e Raul foi preso e
torturado pelo DOPS, tendo que deixar o país.
Raul, Paulo, Edith e Adalgisa decidiram partir
para os Estados Unidos, onde fizeram contato com algumas
personalidades. Enquanto isso aqui no Brasil, a música Gita tocava
de norte a sul do país. E foi graças a esse sucesso que Raul e Cia. voltaram
para o Brasil. O sucesso de Gita deu a Raul Seixas o primeiro
Disco de Ouro, com mais de 600 mil cópias vendidas.
1975 - Lança o disco: Novo Aeon (1975,
Philips) que vendeu apenas 60 mil.
- Reedição alterada de Os 24 Maiores Sucessos da Era do
Rock com o nome de Raul na capa e um novo título, 20 Anos de
Rock.
1976 - Lança o álbum Há 10 Mil Anos
Atrás, maquiado na capa como um “sábio ancião”. Chegou então ao fim a
parceria com Paulo Coelho, embora continuassem íntimos.
Decidiu sair da Philips para outra gravadora,
a recém-fundada WEA. Marcou esse período o rosto sem barba nem bigode (suas
“marcas registradas”) e a relação com um novo parceiro (e antigo vizinho dos
tempos do Rio), Cláudio Roberto, professor de ginástica, poeta e cantor.
1977 - Junto com Cláudio Roberto realiza o
LP O Dia em que a Terra Parou. A crítica considerou que não
mantinha o mesmo nível dos trabalhos anteriores. Mas os fãs se deliciaram
com Maluco Beleza, Sapato 36 e O Dia em que a Terra
Parou. Raul chegou a fazer alguns shows, mas sem muito sucesso, devido às
críticas ao LP.
1978 - Com a companheira Tânia Menna
Barreto dividiu parceria em seu novo álbum: Mata Virgem (1978,
WEA). O disco trazia de volta Paulo Coelho, mas a má divulgação e a crítica não
ajudaram no sucesso do álbum.
1979 - Faz seu último álbum para a WEA, Por
Quem os Sinos Dobram, em parceria com o amigo Oscar Rasmussen. Raul saiu da
gravadora levando sua secretária de imprensa, a carioca Ângela Costa, hoje mais
conhecida como Kika Seixas. Raul assinou um novo contrato com a CBS.
1980 – Lança o álbum Abre-te, Sésamo pela
CBS. O disco vende bem menos do que merecia.
1981 - Raul rescinde o contrato com a CBS
por pedirem que dedicasse o próximo disco a Lady Diana que era o assunto do
momento. Nessa época, Sylvio Passos, com 18 anos, comunicou a Raul Seixas que
havia fundado o Raul Rock Club. Ele ficou surpreso, e passou a
participar ativamente do que denominaria de Raul Seixas Oficial
Fã-Clube.
São Paulo o recebeu de braços abertos.
Iniciou, então, uma série de shows pela capital e interior do estado paulista.
Chegou a fazer uma temporada no Teatro Pixinguinha com sucesso absoluto.
1982 - Sem gravadora, mas com um público
enorme e fiel, apresenta-se para mais de 150 mil pessoas em 13 de fevereiro de
1982 no Festival Música na Praia, em Santos, São Paulo.
1983 - Em São Paulo, em abril, o músico
lança o álbum Raul Seixas. O disco traz uma faixa gravada durante
um show realizado no Sociedade Esportiva Palmeiras, onde Raul
Seixas contou, através das músicas, a história do rock and roll para mais de 10
mil pessoas.
1983 - Lança o livro As Aventuras
de Raul Seixas na Cidade de Thor, dividido em três partes: a primeira, um
diário escrito entre os sete e os quatorze anos, no qual nota-se um grande
conhecimento de rock and roll; na segunda parte, uma série de contos feitos
entre os doze e os vinte e um anos; e, finalmente, na terceira, uma história em
quadrinhos, chamada A Lei dos Assassinos da Montanha (humor
negro). Com o sucesso do disco, do livro e da turnê pelo Brasil, Raul e
Kika realizaram uma viagem aos Estados Unidos para ver as novidades musicais e
voltaram inspirados. Raul então assinou novo contrato, dessa vez com a Som
Livre.
1984 - Em junho, lança o álbum Metrô
Linha 743.
Sobre a letra da música Cuidado, povo, senão o
metrô vem e te pega leia o excelente texto de Cassiano Silveira, disponível em:
https://pandoficina.blogspot.com/2021/04/cuidado-povo-senao-o-metro-vem-e-te.html
1985 - Em São Paulo, o Raul Rock Club (o Fã-Clube Oficial) lança o álbum Let me Sing my Rock and Roll, o primeiro disco produzido e distribuído independentemente por um fã-clube brasileiro, disputado hoje a peso de ouro por fãs e colecionadores.
1986 - Assina contrato para dois álbuns com a
Copacabana. Porém, os problemas com a saúde atrapalharam as sessões de gravação
no estúdio e o LP, que todos esperavam para aquele, acabou sendo lançado só no
início do ano seguinte.
1987 - Lançamento de novo disco que traz como
título o grito de guerra de rock and roll: Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béin-Bum! O
disco traz grande sucesso a Raul Seixas que é destaque na mídia. Sua música é
ouvida e cantada pelo povo, mas continua longe dos palcos e da TV devido à
saúde precária. A música Cowboy Fora-da-Lei estoura nas
paradas de sucesso e ganha um videoclipe no Fantástico -
programa dominical da Rede Globo - e compõe a trilha sonora da novela das
sete na mesma emissora. A letra da música destaca o rechaço às atitudes
inconsequentes: “Mamãe, não quero ser prefeito/ pode ser que eu seja eleito/ e
alguém pode querer me assassinar.”
Não Quero Mais Andar na Contramão exalta a paz
e o sossego, no aconchego do lar. Marcelo Nova, convida-o para viajar para
Salvador, para se apresentar com ele. Raul, após afastamento dos palcos
por três anos, aceita o convite.
Em Salvador, Marcelo Nova e Raul
Seixa iniciam juntos uma série de 50 shows realizados em várias cidades
brasileiras e que resulta no disco A Panela do Diabo.
Raul Seixas participa da gravação do álbum que
o Camisa de Vênus prepara para lançar, dividindo vocais e
parceria com Marcelo Nova - então vocalista e letrista do grupo baiano
- na música Muita Estrela, Pouca Constelação, referindo-se ao
cenário pop brasileiro de maneira desdenhosa.
1988 - Lança, em setembro, o álbum A
Pedra do Gênesis, cujo tema é a Sociedade Alternativa.
1989 – Lançamento do disco A Panela do
Diabo, em 19 de agosto.
–
Segunda-feira, 21 de agosto de 1989, em São Paulo, falecimento de Raul Seixas,
de parada cardíaca, causada pela pancreatite de que sofria há dez anos. O
corpo foi levado para o Palácio das Convenções do Anhembi, Zona Norte de São
Paulo, onde foi velado até o dia seguinte. Às oito horas da manhã do dia 22, o
corpo seguiu para Salvador, onde foi sepultado às 17 horas no Cemitério Jardim
da Saudade.
Após seu falecimento - O número de
pessoas interessadas em sua vida e obra vem aumentando
consideravelmente. Pessoas de todas as faixas etárias e classes
sociais se organizam nos inúmeros fãs clubes criados para homenageá-lo. Casas
culturais, praças, ruas, viadutos e parques recebem seu nome - a exemplo dum
parque público de 33.000 m² em São Paulo, Itaquera, Zona Leste da cidade.
Revistas, pôsteres e cerca de 20 livros
enfocam a vida e obra de Raul Seixas. Todos os títulos de sua imensa
discografia já foram reeditados em CD, e novos títulos são lançados
constantemente. Programas de rádio e TV, romarias ao Cemitério Jardim da Saudade,
em Salvador, passeatas, carreatas e inúmeros eventos acontecem anualmente em
todo o Brasil nas datas de nascimento - 28 de junho - e falecimento - 21 de
agosto.
ANEXO I
Gêneros: Rock and roll; Rockabilly;
Baião; Country Rock psicodélico; Folk Folk rock MPB Acid Rock
Gravadoras: Odeon; CBS Discos;
Philips/Phonogram; Warner Music; Eldorado; Som Livre; Copacabana
Artistas relacionados: Paulo Coelho; Marcelo
Nova; Edy Star; Míriam Batucada; Jerry Adriani; Sérgio Sampaio.
Influências: Luiz Gonzaga; Elvis Presley;
Little Richard; Chuck Berry; The Beatles; John Lennon; Roberto Carlos; Frank
Zappa; Led Zeppelin; Bob Dylan; Jerry Lee Lewis.
Contato Raul Seixas (R.S.S.)
salomaodesert@gmail.com© 2013
Leia mais: https://raul-seixas-r-s-s.webnode.page/sobre-nos/
ANEXO II - Parceiros
de Raul Seixas
1- Paulo Coelho
Raul Seixas e Paulo Coelho haviam se conhecido
porque o primeiro se interessou por um artigo sobre extraterrestres escrito
pelo segundo, sob pseudônimo, e publicado pela revista A Pomba.
Paulo inicialmente estranhou a abordagem de Raul, uma vez que o cantor ainda
era um executivo da CBS. Entretanto, os dois firmaram uma amizade, ainda que
Coelho fosse resistente à ideia de se tornar letrista. Para dissuadi-lo, Seixas
creditou Paulo como coautor da canção Caroço de Manga e o dinheiro
proveniente disso cooptou Paulo Coelho. Num artigo de 2009 à Rolling
Stone Brasil, Paulo Coelho falou sobre a relação com Raul:
“A nossa relação sempre foi muito complicada
desde o começo. Quando começamos a trabalhar juntos, nos víamos todo dia. Ou
ele vinha para minha casa ou eu ia para a casa dele. Era uma relação muito
intensa, e uma competição acirrada. Raul sempre achava que eu queria mostrar
que era melhor que ele, e vice-versa. Eu era o intelectual que sonhava morrer
incompreendido, e Raul tinha esse poder de comunicação muito grande – muito
grande. Pouco a pouco, nós começamos a desenvolver toda a ideologia da
Sociedade Alternativa, unindo o ideário hippie.” ‘Você acha que isso é bonito?’
Ele: ‘É ótimo’. Falei: ‘Então tá’. Fui para casa e escrevi a letra de ‘Al
Capone’. Ele nunca dizia que a letra estava uma droga. Dizia: ‘Não é assim,
sabe?’ Letra de música não é poesia. Letra de música é letra de música. É
preciso libertar-se um pouco dessa ideia.”
Ao todo, Paulo Coelho foi creditado pela
coautoria de cinco das 12 músicas do que se tornou “Krig-ha, Bandolo!”. O resto
foi composto inteiramente por Seixas, que também assinou a produção, junto com
Marco Mazzola.
O nome do disco é uma referência ao grito de
guerra de Tarzan nos quadrinhos – editados no Brasil pela EBAL –, que significa
basicamente “Cuidado, tem bandido aí”. A mensagem anti autoridade do álbum é
reforçada em seu carro chefe, o single “Ouro de Tolo”, cuja inspiração foi
descrita por Raul numa entrevista à revista Amiga em 1973:
“Precisamente a 7 de janeiro deste ano [1973],
às 16 horas, quando houve um eclipse parcial, estava eu na Barra da Tijuca,
perto do Recreio dos Bandeirantes, e avistei um disco cujos lados havia [sic]
uma auréola cor de fogo em propulsão. Quando surgiu e consegui visualizá-lo,
uma coisa estranha me tocou e só então percebi que era um predestinado e as
coisas começaram a clarear para mim, sedimentando-me este conceito.
Simbolicamente, pareceu-me viajar no tal disco-voador e consegui ver a Terra
com toda sua problemática. Ao retornar da viagem espacial, não sei explicar o
personagem que encarnei por alguns minutos, mas pareceu-me um jacobino, dentro
daquela Revolução Francesa. Refeito, voltei à casa e passei a interessar-me
pelo cósmico. Dois meses depois, acordei bem cedo, com vontade de escrever. Era
uma espécie de ânsia. Telefonei a um amigo e ele me aconselhou a voltar ao
local do disco-voador. Voltei e, lá chegando, tive um sentido amplo do que era
a terra, o fogo, a água, e o ar, esses quatro elementos que compõem um todo a
ser vivido por mim, mas por etapas.”
Krig-ha, Bandolo foi lançado dia 21 de julho de 1973, se tornando um grande sucesso
graças a Ouro de Tolo e uma canção que veio a se tornar um dos
maiores hits da carreira de Raul, Metamorfose Ambulante.
Em 2007, a Rolling Stone Brasil
elegeu Krig-ha, Bandolo o 12º melhor álbum da história da
música brasileira. É o disco mais bem colocado de Raul na lista. Cinco
anos depois, no ano de 2012, uma votação popular conduzida pela rádio Eldorado,
o portal Estadao.com.br e o Caderno C2+Música elegeu o álbum o quinto melhor da
história da música nacional.
Faixas:
Introdução
Good Rockin Tonight
Mosca na Sopa
Metamorfose Ambulante
Dentadura Postiça
As Minas do Rei Salomão
A Hora do Trem Passar
Al Capone
How Could I KnowRockixe
Cachorro Urubu
Ouro de Tolo
Meu Nome É Raul Santos Seixas (Vinheta)
Músicos:
Raul Seixas (voz, guitarra) Jay Anthony Vaquer
(guitarra) Paulo César Barros (baixo) Alex Malheiros (baixo) Pedrinho Batera
(bateria) Bill French (bateria) mamão (bateria) Luiz Paulo Simas (teclados) Miguel
Cidras (teclados) Miguel Cidras (piano) José Roberto Bertrami (piano) José
Menezes (banjo) Paulinho Braga (berimbau) Marco Mazzola (pandeiro)
2- Cláudio Roberto Andrade de Azeredo,
creditado apenas como Cláudio Roberto, foi dos maiores amigos e principais
parceiros de composição de Raul Seixas: Cláudio foi o único com quem o cantor
baiano realizou um álbum inteiro. Nascimento: 28 de maio de 1952, Vassouras,
Rio de Janeiro Falecimento: 29 de outubro de 2022 Álbuns: Sucessos Românticos Morte:
29 de outubro de 2022 (70 anos).
Ao lado de Cláudio Roberto, Raul Seixas fez
algumas de suas músicas mais famosas, como "Maluco beleza",
"Aluga-se", "Rock das aranhas” e "Cowboy fora da lei".
Eles eram amigos desde a juventude e se conheceram em 1963, quando Raul tinha
18 anos e Cláudio Roberto tinha 11. A primeira canção composta pela dupla foi
"I don't really need you anymore", de 1968.
A partir de então, foram mais de 30
canções feitas a quatro mãos por Raul e por Cláudio Roberto. Foi com ele que
Raul fez seu primeiro álbum dividido com um único parceiro: O dia em
que a Terra parou, em 1977.
ANEXO III - MÚSICAS DO LADO
B: Raul Seixas por Cassiano Silveira
-Você https://www.youtube.com/watch?v=3HQwXDkYEnM
-Metrô linha 743 https://www.youtube.com/watch?v=PRZa3c6y07M
-Eu sou egoísta https://www.youtube.com/watch?v=w4o_NqD0HgM
-Areia da ampulheta https://www.youtube.com/watch?v=04guHwtT5oU
-Novo aeon https://www.youtube.com/watch?v=EGBL2ZndsaE
-A lei https://www.youtube.com/watch?v=vAh8nnZZZlA
-Ângela https://www.youtube.com/watch?v=c1tCjVYnmb
-Rockixe https://www.youtube.com/watch?v=LuAcaXWMos8
-Let me sing https://www.youtube.com/watch?v=9QKv0X-PS-0
-Lua bonita https://www.youtube.com/watch?v=-88WDeyw2ng
ANEXO IV
1 - Músicas geniais que compõem o legado musical de Raulzito:
Metamorfose Ambulante
(1973) https://youtu.be/CmB4sfoZkwo
Integra seu primeiro disco solo,
intitulado “Krig-Ha, Bandolo!”, uma referência ao grito de guerra do personagem
Tarzan.
Ouro de Tolo (1973) https://www.youtube.com/watch?v=cn0S56WPkjQ
Crítica aos costumes da
sociedade, faz menção aos “anos de chumbo” da ditadura militar que
foram acompanhados por acumulação de riquezas no topo da pirâmide e de
empobrecimento da classe trabalhadora e da população em geral devido à
hiperinflação.
Mosca na Sopa (1973)
Lançada no período do regime
militar. Com metáforas criativas, a letra denuncia o clima de opressão. Na
música, a mosca parece representar as forças do regime, que estavam em todo o
lugar, ameaçando, rondando, perseguindo.
Sociedade Alternativa (1974)
Composta pela dupla Raul Seixas
e Paulo Coelho fala sobre uma comunidade utópica em que todos vivem com
liberdade, contrastando com a opressão imposta no período da
ditadura.
Medo da Chuva (1974)
Parceria com Paulo Coelho,
reflete sobre uma época conservadora e um dos seus principais alicerces: o
casamento.
Tente outra vez (1975)
É uma lição de resiliência escrita em colaboração com Marcelo
Motta e Paulo Coelho, em homenagem ao amigo Geraldo Vandré.
Eu nasci há 10 mil anos atrás
(1976)
Parceria com Paulo Coelho, a
música é baseada em uma música country com o mesmo título, I Was Born About Ten
Thousand Years Ago, gravada por Elvis Presley, em 1972.
Maluco Beleza (1977) https://www.youtube.com/watch?v=01WCtTBNLfk
A letra simples carrega em seus
versos uma mensagem revolucionária sobre onde em uma sociedade que vive de
padrões e aparências, um sujeito diz ter rejeitado tal padrão.
Gita https://www.youtube.com/watch?v=2Xc-Yll4xc0
Cowboy fora da lei https://www.youtube.com/watch?v=kyIPqgM8gGs
2 - Os trinta sucessos de Raul
Seixas https://youtu.be/qEFNlN_wqJI
Referências
1- Parceiros
- Filme sobre Paulo
Coelho
Não pare na pista a melhor
história sobre Paulo Coelho
https://youtube.com/watch?v=SmA_uWhCGyQ&feature=share8
- Site sobre o parceiro Cláudio
Roberto
2- A relevância de Raul Seixas
para o Brasil
https://agemt.pucsp.br/noticias/importancia-e-relevancia-de-raul-seixas-para-o-brasil
3- Filme: Raul Seixas - O Início, o Fim e o Meio -
Completo e Dublado
https://youtube.com/watch?v=4M8-4J1rzaE&feature=Shrek
4- Site Raul Seixas (R.S.S.) Eternamente
Raulseixista. Sobre nós Raul Santos Seixas
https://raul-seixas-r-s-s.webnode.page/sobre-nos
5- O álbum Krig-ha Bandolo
“Krig-ha Bandolo”, quando o Brasil conheceu Raul Seixas
(igormiranda.com.br)
6- E-book gratuito 500 páginas
https://whiplash.net/materias/news_800/228132-raulseixas.html
7- Gonçalo Júnior. A utopia do Maluco.
Revista Fapesp, edição 143, janeiro de 2008.
Leia o texto de Cassiano Silveira em https://pandoficina.blogspot.com/2021/04/cuidado-povo-senao-o-metro-vem-e-te.html
ResponderExcluirEm artigo de Gonçalo, pode-se ler essa afirmação de Boscato: “ a ênfase no valor da individualidade, profundamente relacionada com o anarcoindividualismo de Max Stirner, foi uma reivindicação básica da sociedade alternativa.”
ResponderExcluirhttps://revistapesquisa.fapesp.br/a-utopia-do-maluco-beleza/#:~:text=Tr%C3%AAs%20d%C3%A9cadas%20depois%2C%20a%20tese%20de%20doutorado%20em,por%20tr%C3%A1s%20dessa%20aparentemente%20despretensiosa%20e%20delirante%20proposta