Crônica "Refém de uma ocupação" - Edna Domenica Merola

Faz dez meses que começou a pintura no condomínio. Serviço mal feito, muitas reclamações. Faxineiros bons, regulares e excelentes largaram a função devido a problemas nesse fatídico percurso. 

A situação criada obrigou pessoas idosas a suspenderem seus tratamentos com fisioterapeutas e afins porque esses tratamentos demandavam o uso de áreas comuns. 

Nesses longos e abissais meses, houve uma quinzena de suplício especial.  A privacidade dos condôminos foi invadida, por meio da pintura das sacadas dos apartamentos, usando ninjas. Ao invés de cabos de aço, os trabalhadores desciam do topo do prédio equilibrando-se em cordas comuns: dessas que usávamos para brincar na infância. Obviamente foram escolhidos pela capacidade de enfrentar o risco e não pela habilidade de pintar parede. Não usavam fita crepe para limitar contornos. Era um trabalho no atacado, já que seria avaliado por fotos tiradas à distância. Varejo nem pensar! Esses detalhes, segundo a síndica , foram considerados chiliques de condôminos. E, portanto, nenhuma reclamação foi atendida pela síndica de fala defensiva. 
A pintura dos estacionamentos foi uma forma de colocar os condôminos uns contra os outros. Houve disputa de vagas, na base do "salve-se quem puder". Humilharam, até não mais poder, uma senhora idosa que ficou sem local para por seu carro e o deixou no local onde paga IPTU ( sua propriedade privada localizada na área comum, mais conhecida como "vaga de garagem"). 
Graças a Nossa Senhora do Trevo de Quatro Folhas,  os funcionários contratados não realizaram nenhum roubo . Pura obra do acaso os condôminos não terem perdido coisas materiais porque tudo foi planejado para que o caos fosse instalado para restringir as liberdades individuais, cultivando a disputa, a falta de empatia e o desrespeito.
Para baratear o custo com funcionários, a terceirização foi feita, e a rotatividade tornou- se enorme. Isso diminuiu a segurança no condomínio, pois tornou-se impossível identificar quem está desempenhando cada função, em determinado dia. 
Os condôminos relatam que, ao ocorrer alguma disfunção, é temeroso relatar para a síndica, já que ela reage colocando o morador contra o trabalhador e vice versa. Funcionários com antecedentes que "não são lá aquela coisa" , ameaçam moradores, pois estão convencidos de que devem "discipliná-los". 

Entrevistei uma idosa com dificuldade de locomoção e ela disse:

- Sinto-me refém de "uma ocupação" , dá uma sensação horrível. Não adianta ler mensagem de auto ajuda e nem fazer orações. Pessoas robotizadas e que só pensam em tomar sifras para si, concretizaram essa invasão.

A entrevistada forneceu a esta cronista vídeo da feitura de um deck na piscina, em pleno verão, sob altíssimas temperaturas. Essa "obra" começou em 18/02/2025 e permanece inconclusa em 04/03/2025. 

Após a análise de vídeos e fotos, a pergunta que não quer calar:

- Quem assinou esses contratos que causaram tantos riscos e prejuízos na qualidade de vida dos moradores?

E a resposta que ocorre a esta cronista:
- Só pode ser alguém que endossa o autoritarismo e quer impor "a lei do mais forte".  

Publicada no Café Literário Notibras em 05/03/2025, com o título "Quem assinou esses contratos?" e  a 'manchete" Quando o barato sai caro e o condômino é quem paga o pato."


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