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Uma cartinha para você. Edna Domenica Merola.

Escrevo-lhe porque estou desencantada. –   Motivo? É que me encontro em local próximo da ponte que partiu. –  Que ponte? A ponte que unia ficção e realidade de maneira consciente de ambas. A ponte que usava signos e construía utopias. –  O que são utopias?  –  perguntarão seus netos. Você bem o sabe e talvez lhes responda. Ou não. Escrevo-lhe porque talvez você possa cuidar um pouco desse meu desencanto. Sim, vou lhe fazer um pedido: que escreva um conto sobre um moto boy que não seja pego pela injustiça trabalhista, nem por um carro dirigido por um motorista bêbado, um estresse profundo, uma desnutrição, um inquérito. Quero lhe pedir que invente uma história para que eu conheça a vida desse ser vivendo em paz e dignidade (que já lhe conheço o lado sobrevivente a duras penas). Quero que me escreva um conto em que o moto boy protagonize uma vida de verdade e não seja arrolado como boi de piranha. Escreva-me uma história para me encantar de p...

Até hoje... Rosilene Souza

Até hoje não sei o que realmente aconteceu. Só sei que aconteceu. Tudo começou quando fui visitar um apartamento para alugar. Sim, que apartamento! Estremeço só de pensar... Essa fatídica lembrança nunca saiu das minhas memórias olfativas. Me senti atraída pelo apartamento desde o momento que o vi. Era exatamente o que procurava: aconchegante, antigo, espaçoso, luminoso,... enfim, um sonho. Encantada decidi alugá-lo. Mas, antes daria mais uma olhadinha naquela maravilha, pois algo tinha despertado a minha atenção, não sabia bem o quê. E assim, o fiz. Dispensei o corretor, pois dessa vez não queria a presença de ninguém desviando a minha atenção. E muito menos a dele. Sujeito estranho, com aquele sorriso branco. Falava sem parar e contava histórias estranhas dos antigos proprietários do imóvel. Era como se ele, não quisesse alugá-lo e guardasse algo de misterioso ali. Assim, ao abrir a porta do imóvel, senti um leve perfume inebriante e nauseabundo. Pensei: a última pessoa que vis...

Muros que constroem muros. Karoline Paula Coletti Gomes

  Como boa questionadora da gravidade estava eu, numa tarde qualquer, sentada no portãozinho verde da minha casa, quando me deparei com uma cena comum, mas à qual pouco dava atenção: duas pombas pousavam num encontro sobre o muro cuja principal função é separar casas e vizinhos... Já que as notícias diárias nos impulsionam a fazer isso.   – Ah que engraçado! – pensei. As pombas fizeram essa imagem, utilizando o muro como causa de união ao invés de separação.   –  Bah , como queria eu, destruir os  muros  que constroem muros nas nossas comunidades.

Poemas de Clara Amélia de Oliveira

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Carta para Simone. Marlene Xavier Nobre

  Florianópolis, 25 de abril de 2016. Bom dia, Simone,              Estou desde ontem à noite lendo, aqui no Google , sobre o mito de Lilith. É muito profundo!           Mas sabe o que acho? Que ainda hoje a mulher paga um preço por cometer este tal pecado. A mulher parece que é culpada sempre por tudo, que não pode nada e o homem pode tudo.           Quando uma mulher trai o marido e sai de um casamento é tachada de tudo, até de prostituta como se fosse suja. Mas o homem pode tudo, faz de tudo. O ditado diz: sacode as calças e vai embora .           No trabalho a mulher pode ter mil diplomas conhecimentos mil, mas não adianta! O homem é quem manda e comanda. Ainda bem que tem as intuitivas, as sacerdotisas e muitas “Simones” espalhadas por aí.           Temos ...

Palavra poética feminina sobre o amor. Edna Domenica Merola

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  Cora, Coração. 2011 As lutas por oportunidades no contexto atual demandam muita força e empenho, principalmente no campo das artes e em especial da autoria feminina. Por isso apresento alguns poemas sobre o encontro amoroso visto do ângulo da mulher... Palavra de Julinha da Adelaide Soledad!  I- Em botão   A aurora debruça-se  em minha janela Do seu colo nu, brotam lembranças      de você   Sob as copas das árvores, Cantam canários, Sussurra o vento Doce acalanto           de suaves           recordações.   Um raiozinho de sol Seca pequena gota de orvalho, Minha percepção vê detalhes                               de você.   Teu corpo pôr-do-sol Teus olhos mares azuis Teus braços caracóis Teus cabelos, ver...

O crush da Professora “Z” Maria. Edna Domenica Merola.

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Tendo por chave o  Teatro do Absurdo,  relembro  A Cantora Careca,  de Ionesco, e pretendo compartilhar minhas reflexões sobre um segmento de falas dos personagens Capitão e Senhor Martin. Para representar a quase extinta ala utópica das reflexões, convoco a Professora “Z” Maria. Ela é da minha turma de amigas nascidas entre o final da década de 1940 e início de 1950, batizadas de Maria como segundo nome, professoras devotas de San Gennaro (um napolitano que morreu de emboscada!). Chamo ainda a Sra. Dá Ares, só para dar um tom de malfadada verossimilhança à representação. O segmento de falas alvo (uma do Capitão e outra do Sr. Martin), conforme escrito por Ionesco, consta a seguir: CAPITÃO: Falo de minha própria  experiência . A verdade, nada mais que a verdade. Nenhuma ficção. SR. MARTIN: Isso mesmo. A  verdade  nunca é encontrada em livros, somente na vida. Invento o que prossegue: DÁ ARES: Há livros e livros. Na Bíblia, só há ...