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Sobre a coletânea Tudo poderia ser diferente - inclusive o título.

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  Ilustração Cassiano Silveira A live do lançamento  "Tudo poderia ser diferente - inclusive o título" Hora: sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022 19:00:00 Horário Padrão de Brasília   Apresentação por Mário Motta Quando recebi o convite para apresentar essa coletânea, juro que titubeei. Depois percebi que – vacilei – identificaria melhor minha reação. Por fim – aceitei, foi o verbo que abraçou a ação. Quem sou e porque eu? Pensei. Já conhecia a maior parte dos autores com quem passei uma tarde deliciosa conversando sobre comunicação e aprendendo um pouco mais sobre a capacidade humana de se expressar, de se relacionar com o próximo e respeitá-lo, numa Oficina que os reunia e que por fim, motivou essa coletânea. Fiquei maravilhado com a diversidade de seres tão semelhantes, reunidos por um único sentimento – o amor às palavras e o que elas conseguem expressar. Senti-me honrado, mas confesso meu vacilo foi imaginar como apresentá-los se a qualidade de seus textos o fará por ...

Macabéa e eu. Esni Soares.

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Escrever algo a respeito de Macabéa (de Clarice Lispector em A Hora da Estrela)  uma personagem tão emblemática, sobre a qual tantos estudiosos já se debruçaram, é um desafio e tanto. Esta personagem por muitos estudada cruzou as páginas dos livros, chegou às telas do cinema, com a adaptação de Suzana Amaral e roteiro de Alfredo Oroz (1985), e marcou a vida de inúmeros leitores, em tempos passados e presentes. E certamente marcará no futuro. Mas por que uma obra escrita em 1977 ainda chama a atenção de muitos leitores? Por que Macabéa ainda fascina e intriga tanto as pessoas? Não sou escritora, nem uma estudiosa de literatura, então vou me ater à minha experiência como alguém que ficou impressionada com a personagem desde a primeira leitura. Macabéa representa tantas mulheres pobres, sem estudo, sem amor, sem perspectivas de mudar sua situação na sociedade. Senti desde o começo da leitura que essa personagem me representava.  Também fui uma menina de família pobre, que s...

Des-foque. Rosilene Souza

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  des-foque   esfrego os olhos na tentativa de enxergar nitidamente. me aborreço! novamente, esfrego os olhos. inútil ilusão, penso! sim, inútil, inútil, inútil, ... mil vezes inútil. quanto mais esfrego, mais embaçados ficam. aí, lembro que justamente hoje, logo hoje, esqueci de colocar as lentes. na pressa, não peguei os óculos. e agora? como fazer para ENXERGAR, OLHAR, VER o letreiro do ônibus na minha frente? me sinto perdida sem as minhas muletas visuais. para piorar a situação, começa a chover. o desespero aumenta, as horas voam e continuo aguardando o transporte. pessoas vem e vão e não fazem a mínima ideia do meu sofrimento visual. bem feito pra mim, quem mandou ser desatenta? assim, tento me enganar com estes pensamentos. espera! uma pessoa senta ao meu lado. que medo! e agora? estamos sozinhas neste ponto mal iluminado e ermo. que dia! que dia! meus pensamentos gritam de pavor. ela começa a mexer na bolsa.... resmunga.... olha na minha direção. levanta. resmung...

Uma cartinha para você. Edna Domenica Merola.

Escrevo-lhe porque estou desencantada. –   Motivo? É que me encontro em local próximo da ponte que partiu. –  Que ponte? A ponte que unia ficção e realidade de maneira consciente de ambas. A ponte que usava signos e construía utopias. –  O que são utopias?  –  perguntarão seus netos. Você bem o sabe e talvez lhes responda. Ou não. Escrevo-lhe porque talvez você possa cuidar um pouco desse meu desencanto. Sim, vou lhe fazer um pedido: que escreva um conto sobre um moto boy que não seja pego pela injustiça trabalhista, nem por um carro dirigido por um motorista bêbado, um estresse profundo, uma desnutrição, um inquérito. Quero lhe pedir que invente uma história para que eu conheça a vida desse ser vivendo em paz e dignidade (que já lhe conheço o lado sobrevivente a duras penas). Quero que me escreva um conto em que o moto boy protagonize uma vida de verdade e não seja arrolado como boi de piranha. Escreva-me uma história para me encantar de p...

Até hoje... Rosilene Souza

Até hoje não sei o que realmente aconteceu. Só sei que aconteceu. Tudo começou quando fui visitar um apartamento para alugar. Sim, que apartamento! Estremeço só de pensar... Essa fatídica lembrança nunca saiu das minhas memórias olfativas. Me senti atraída pelo apartamento desde o momento que o vi. Era exatamente o que procurava: aconchegante, antigo, espaçoso, luminoso,... enfim, um sonho. Encantada decidi alugá-lo. Mas, antes daria mais uma olhadinha naquela maravilha, pois algo tinha despertado a minha atenção, não sabia bem o quê. E assim, o fiz. Dispensei o corretor, pois dessa vez não queria a presença de ninguém desviando a minha atenção. E muito menos a dele. Sujeito estranho, com aquele sorriso branco. Falava sem parar e contava histórias estranhas dos antigos proprietários do imóvel. Era como se ele, não quisesse alugá-lo e guardasse algo de misterioso ali. Assim, ao abrir a porta do imóvel, senti um leve perfume inebriante e nauseabundo. Pensei: a última pessoa que vis...

Muros que constroem muros. Karoline Paula Coletti Gomes

  Como boa questionadora da gravidade estava eu, numa tarde qualquer, sentada no portãozinho verde da minha casa, quando me deparei com uma cena comum, mas à qual pouco dava atenção: duas pombas pousavam num encontro sobre o muro cuja principal função é separar casas e vizinhos... Já que as notícias diárias nos impulsionam a fazer isso.   – Ah que engraçado! – pensei. As pombas fizeram essa imagem, utilizando o muro como causa de união ao invés de separação.   –  Bah , como queria eu, destruir os  muros  que constroem muros nas nossas comunidades.

Poemas de Clara Amélia de Oliveira

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